sábado, 24 de agosto de 2019

A Gazeta e a imprensa gonçalense

Por Rui Aniceto Nascimento Fernandes*

A Gazeta, 7 de março de 1920

A história da imprensa de São Gonçalo ainda está para ser escrita e muito já se perdeu. Trabalhos pioneiros, nessa seara, foram realizados por Luiz Palmier (1), Godofredo Tinoco (2), Homero Guião (3) e Maria Nelma de Carvalho Braga (4). Traçaram listagens com dados sumários relativos às datas de circulação e informações sobre os editores dos periódicos locais. 

Os estudos de maior fôlego foram realizados, na década de 1980, por Cybelle e Marcello de Ipanema e publicados originalmente no jornal O São Gonçalo (5). Pela síntese feita pelo casal, do surgimento da primeira folha local, em 1877 até 1913 São Gonçalo teria contado com 9 jornais de efêmera periodicidade: 
A Matraca (1877), Lavoura S. Gonçalense (1879), Folhinha (1891), Pharol (1891), O Progresso (1894), Gazeta do Município (1903/1904), O São Gonçalo (1904), Neves (1906), O Futuro (1907).


Estes jornais teriam perfil literário e/ou político. A Matraca, por exemplo, circulou entre 1877 e 1879, quando São Gonçalo ainda era freguesia niteroiense, era um semanário “crítico e recreativo”. Já O Futuro era “órgão do Partido Republicano de São Gonçalo” (6). 

Pelo menos duas características desse período ainda estão presentes nos dias atuais: a efemeridade e a vinculação a correntes ou personagens políticos. Perspicazmente Palmier sentenciava: “as lutas políticas foram sempre motivo do maior esplendor ou decadência das empresas jornalísticas”. 


A Gazeta foi o primeiro jornal local de periodicidade regular. Iniciou suas atividades, sob direção dos irmãos gêmeos Abílio José e Belarmino de Mattos, em 24/8/1913, com edições semanais. O movimento político de 1930 impactou essa folha. Seu posicionamento frente às eleições municipais de 1929 foi levado em consideração pelos adeptos do regime instaurado em outubro de 1930.


Naquele pleito eleitoral A Gazeta tributou apoio ao candidato situacionista, indicado pelo presidente do Estado Manoel Duarte. Vitorioso o movimento que levou Getúlio Vargas ao poder, as forças legalistas foram depostas e A Gazeta foi empastelada. Este fato levou ao rompimento da sociedade dos irmãos Mattos. 

Belarmino de Mattos organizou-se para lançar seu novo jornal. Em 22 de janeiro de 1931 saiu o primeiro número de O São Gonçalo afirmando-se órgão independente das correntes políticas e pró-desenvolvimento local. Em 9/11/1930 Abílio José de Mattos retomou as atividades de A Gazeta mudando significativamente sua linha editorial. Circulou até 1937, quando veio a falecer (7). 
* Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Gonçalo (IHGSG), da Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências (Aglac), e do Instituto Histórico e Geográfico Itaborahyense (IHGI).
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1) Luiz Palmier. São Gonçalo, cinquentenário. História, geografia, estatística. Rio de Janeiro: Serviços Gráficos do IBGE, 1940.
2) Godofredo Tinoco. Imprensa Fluminense. 1826-1963. Rio de Janeiro: Livraria São José.
3) Homero Guião Filho. História de São Gonçalo. São Gonçalo: s/n., 1968.
4) Maria Nelma de Carvalho Braga. O município de São Gonçalo e sua história. 3 ed. Niterói: Nitpress, 2006.
5) Os artigos do casal Ipanema teriam sido publicados nas edições de 14-15/3/1981, 21-22/3/1981, 28-29/3/1981, 4-5/4/1981, 11-12/4/1981 e 17-19/4/1981. Esses artigos foram reunidos no livro: Cybelle de Ipanema; Marcello de Ipanema. Imprensa Fluminense. Ensaios e Trajetos. Rio de Janeiro: Instituto de Comunicação Ipanema, 1984.
6) Idem, p. 183.
7) Em setembro de 2002, A Gazeta voltou a circular, por um curto período, sob direção de Cezar Mattos, filho de Belarmino de Mattos.